Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

sábado, 15 de agosto de 2015

São os "loucos" da minha cidade...


"Todos temos um lugar onde a vida se acerta. Cada mundo tem um centro. O meu lugar não é melhor do que o teu, não é mais importante. Os nossos lugares não podem ser comparados porque são demasiado íntimos. Onde existem, só nós os podemos ver. Há muitas camadas de invisível sobre as formas que todos distinguem."
José Luís Peixoto

Gosto de tomar um bom e descansado pequeno-almoço fora de casa. Pertenço àquele grupo de pessoas que acorda com o estômago tão encolhido que nem consegue pensar em comida sem o sentir sufocar, mas uma hora e tal depois de me levantar sabe-me bem sentar-me num sítio calmo, a desfrutar de uma boa dose de vitamina C e de um croissant. Qual é a dificuldade? Encontrar um lugar que tenha uma boa relação qualidade - atendimento. O desafio extra? Descobrir um cantinho sem os "loucos" da minha cidade…
Um dia destes, daqueles cheios de afazeres acumulados, levou-me a um estaminé diferente, nos arredores. Ainda não tinha estacionado, já um sem-abrigo com aspeto duvidoso me estava a dizer pelo vidro do carro se me podia pedir um favor. Ao entrar no café, uma senhora falava alto sozinha enquanto os presentes se riam, provavelmente já habituados àquele espetáculo de variedades matinal. Comecei a perceber que os loucos da minha cidade afinal também existem nos subúrbios.
Ao aproximar-me do balcão para fazer o pedido, um senhor de meia-idade, de roupas espampanantes e sorriso desdentado, trazia a louça das mesas do café e disse à menina do caixa: 
- Já viu? Hoje comecei o meu turno cedo!
Percebi que era comum o senhor contribuir na limpeza das mesas e não me consegui impedir de esboçar um sorriso… Fui apanhada! O referido indivíduo disse logo:
- Já falo consigo!
Tentei encolher-me, pedi o meu pequeno-almoço e apressei-me para uma mesa vazia, amaldiçoando a hora em que sorrira e, embora ansiando por uma refeição descansada, instruindo-me mentalmente para me apressar. Mas o senhor não me dava tréguas. Enquanto continuava a levantar louça das outras mesas, falava alto:
- Não pense que escapa! Eu vou ter uma conversa consigo!
Envergonhada e irritada, não sei bem se disse ou se apenas pensei:
- Por favor, deixe-me tomar o pequeno-almoço descansada!
Por fim, aquele sorriso quase sem dentes veio junto da minha mesa e disse-me:
- Não é nada de mal, menina. Não lhe quero roubar tempo. Só lhe quero dizer uma coisa e a menina vai gostar. E aposto que se vai rir. A menina é muito bonita!
Apanhada desprevenida, senti-me corar, mas sorri… Ele continuou:
- Eu não disse que a menina ia gostar? E sabe como é que eu sei que é bonita? Porque a menina sorriu para mim sem me conhecer. E quem faz isso é bonito por dentro! E sempre que alguém me faz isso eu tenho de falar com essa pessoa para lhe dizer! Tenha um bom dia!
E foi-se embora, sem me importunar mais. Fiquei embasbacada. Já não precisava da vitamina C do sumo de laranja para ter forças de enfrentar o próximo "louco" da minha cidade… E não demorou a aparecer:
- Ai, menina, se não se importa que me sente na sua mesa… Não gosto nada de tomar o pequeno-almoço sozinha. A minha filha…
Sorri… Não queria deixar de ser bonita!

sábado, 8 de agosto de 2015

Fendas...


"(…) todos temos fendas. Como se todos nós começássemos por ser um pequeno barco. Depois vão-nos acontecendo coisas: pessoas abandonam-nos, ou não nos amam, ou não nos percebem, ou nós não as percebemos a elas, e perdemos, falhamos e magoamo-nos uns aos outros. E o barco vai abrindo pequenas fendas. E, sim, quando o barco abre fendas, o fim torna-se inevitável. (…) Mas há imenso tempo entre o momento em que as fendas começam a aparecer e o momento em que finalmente nos afundamos. E é só durante esse tempo que podemos ver-nos uns aos outros, porque conseguimos ver para fora de nós mesmos através dessas fendas e para dentro dos outros através das fendas deles. (…) quando se abrem fendas no barco, a luz consegue entrar. A luz consegue sair."
John Green

Revejo-me nesta sucessão de metáforas. Ao longo dos anos, fui (e não fomos todos?) colecionando fendas. Este pequeno e frágil barco que sou há muito que deixou de ter um casco imaculado e resistente a todas as tempestades. Fustigado por ventos e marés mais agrestes, foi ficando com alguns rombos. Alguns foram tão grandes que temi o naufrágio das forças, o afogamento da alma. Mas aqui estou.
Por esses rombos fui espreitando e conhecendo outras embarcações como eu. Fui estendendo a mão e aceitando ajuda para os remendos ou esticando os braços e colaborando nas reparações dos outros. E assim fui (e vou) navegando, mais cautelosa e evitando mares desconhecidos para não ser apanhada em tempestades inesperadas.
Mas não desisti de procurar a luz. Quando ela se derrama pelas fendas do meu barco, agarro-me a ela. Às vezes é apenas um fogo-fátuo passageiro, de outras nem chega a ser um pirilampo. Instantes, dias, experiências, pessoas… Sempre que trazem raios de luz deixo-os aquecerem-me. E a travessia fica mais confortável e a pele da alma mais aconchegada. Prossigamos...

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Regras...


REGULAMENTO
(Aos praticantes do sonho)

Artigo 1º
Não estacione o coração em becos sem saída (demore o tempo estritamente necessário para largar despedidas ou carregar abraços)

Artigo 2º
Se beber, com o intuito de se lavar por dentro, não conduza (é quase impossível dar banho ao pensamento sem molhar a lucidez)

Artigo 3º
Antes de atravessar a realidade, pare, escute e olhe, certifique-se de que não existem ilusões em contra-mão (descalce os caminhos que já não lhe servem - caminhos são sapatos que a terra nos oferece para descalçar irrealidade)

Artigo 4º
Não abra a boca a beijos desconhecidos (especialmente aos conhecidos que se fazem desconhecer)

Artigo 5º
Evite adormecer em sonos usados (cansam mais do que subir o infinito a pé)

Artigo 6º
Seja mais sonhamor e menos sonhador (a dor não faz falta. Cria ausências)

Artigo 7º
Nunca faça amor em locais proibidos, salvo em legítima defesa da saudade.

Heduardo Kiesse (poeta angolano)

Este conjunto especial de regras fez-me pensar em como vivemos aprisionados pelas grilhetas do que há para fazer, de horários, de listas de tarefas, de prazos a cumprir e de rotinas durante grande parte do ano (e da vida). Chega uma altura em que temos de instituir uma nova regra: não ter regras, nem que seja por apenas alguns dias ou idealmente por um mês (pelo menos!).
Ao abrigo desse novo e temporário (des)regulamento, o despertador será o sol a bater na cara; o pequeno-almoço poderá ser ao lanche e o almoço ao jantar; a roupa terá o padrão da frescura e o calçado a textura de um areal; os óculos irão à cara para desbravar a montanha de livros a ler (só aqueles que nos chamam pelo nome que é nosso e não os que se impõem por nos terem sido oferecidos e sugeridos e por acharmos que temos de conhecer por dentro); os planos serão feitos consoante a meteorologia da vontade e os sonhos coloridos habitarão todas as sestas de cada entardecer.
E assim se cumprirá a única regra que se deveria impor a alguém: deverás ser feliz durante o máximo de tempo possível e transmitir essa felicidade aos que conheces. Porque só isso é obrigatório. Só isso é urgente. Só isso é qualidade de vida.  

sábado, 20 de junho de 2015

Sofrimento(s)...


"Muito se tem falado sobre o sofrimento dos professores. Eu, que ando sempre na direção oposta, e acredito que a verdade se encontra no avesso das coisas, quero falar sobre o contrário: a alegria de ser professor, pois o sofrimento de ser um professor é semelhante ao sofrimentos das dores de parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho."
Rubem Alves

É fim de ano letivo. Os professores estão cansados, talvez quase esgotados. Sofreram durante mais um ano letivo. Isso é inegável. Mas os que realmente continuam a ser e a querer ser mestres sabem que bastam as quatro semanas de agosto para se esquecerem de todas as dores sentidas.
Ainda é junho, ainda este ano escolar não acabou de arrefecer e já eles pensam no que podem e querem fazer no próximo. Despedem-se dos seus alunos, de alguns apenas até para o ano, de outros até para que a vida os cruze de novo, sabendo que vão ter saudades dos seus sorrisos barulhentos a entrar pela sala de aula.
Se querem e precisam urgentemente de férias e de descanso? Claro! Se querem e precisam inegavelmente de continuar nesta vida-missão que escolheram? Indubitavelmente. Apesar das feridas que nem sempre têm tempo de fechar e sarar para que se abram outras. Apesar dos Velhos do Restelo que lhes rogam pragas entre dentes ou alto e bom som.
Mas eles teimam (e vão teimar!) em continuar a olhar a imensidão deste oceano de oportunidades para ensinar e aprender que é a vida. E vão-se deixar levar pelas ondas do seu próprio entusiasmo. E hão-de descansar no areal de cada verão enquanto vão planificando na sua alma de professores a travessia a iniciar no próximo setembro...

sábado, 13 de junho de 2015

As crianças e a educação...


"Children aren't coloring books. You don't get to fill them with your favorite colors."
Khaled Hosseini

Findo mais um ano letivo (pelo menos em termos de aulas, apesar de ainda haver muito trabalho a fazer!), reflete-se sobre tudo o que foi feito e sente-se a emoção e a nostalgia que assinalam o desfecho de mais uma etapa.
Recordamos alunos que chegaram às nossas mãos há cinco anos atrás, cheios de infância no olhar e nos modos, e sabemos que os entregamos ao futuro a transbordar de uma adolescência que já quer entrar na idade adulta. Passamos o olhar pelas fotografias que fomos tirando e acompanhamos em retrospetiva o seu crescimento.
Não foram, de facto, simples livros de colorir para enchermos com as nossas cores favoritas. Mas encheram-se de cores vivas e lindas. Também não as escolheram sozinhos. Partimos de uma só paleta: a educação. Foi nela que misturamos as sugestões deles com as nossas orientações. 
E assim se fez escola, alegria, vida! Sei que um dia vou poder folhear as páginas do seu sucesso e que vou sorrir perante as ilustrações que também ajudei a preencher. E é isso que me dá a certeza de querer continuar a fazer o que faço, dia após dia, ano após ano!

domingo, 31 de maio de 2015

Folhas, flores e frutos...


"Sem frutos, valeu pelas flores; sem flores valeu pela sombra das folhas; sem folhas, valeu pela intenção da semente."

Ontem disseram-me esta frase. E eu apaixonei-me pela sua assertividade poética. Quantas vezes penhoramos todas as nossas energias para que as sementes que lançamos à terra germinem, criem raízes, desenvolvam folhas, mais tarde flores e, por fim, frutos?
Esfalfamos as pernas da alma, enquanto regamos e doseamos a luz que incide sobre o que plantamos. Revolvemos a terra com carinho, amparamos o caule tímido que desponta e se estica, para que ele se aguente firme e não tombe quando fustigado pelos vendavais do quotidiano. Vigiamos o espreitar do primeiro verde, aplaudimos a chegada das primeiras cores, colhemos a doçura dos pomos que admiramos desde a nascença.
Entristecemo-nos quando este espetáculo é só nosso... Quando a plateia daqueles que julgávamos que iam estar lá para se deliciarem connosco se impacienta e se ausenta antes do resultado final. E é aí que nos salva a frase que citei: tudo valeu a pena pela intenção que pusemos na semente. Intenção que só nós conhecemos, que só nos transplantamos e que só nós amamos… Saboreemos, pois, os frutos. Eles são nossos, por inteiro...

domingo, 26 de abril de 2015

Wilderness...


"It only had to do with how it felt to be in the wild. With what it was like to walk for miles for no reason other than to witness the accumulation of trees and meadows, mountains and deserts, streams and rocks, rivers and grasses, sunrises and sunsets. The experience was powerful and fundamental. It seemed to me that it had always felt like this to be a human in the wild, and as long as the wild existed it would always feel this way."
Cheryl Strayed in "Wild"

Sair de nós próprios, do nosso casulo, espraiar as asas e caminhar… Deixar que as pernas se cansem e os pulmões se encham, que os pés se movam e as vistas se regalem… Absorver a pureza do ar, captar o verde da paisagem, carregar as solas dos pés com a força da terra que, apesar de batida, nunca desvanece…
É, pois, vital fazer pausas na azáfama cheia de papéis da semana e ir ao encontro do vazio das preocupações, da ausência de documentos para ler, elaborar e preencher. Injetarmo-nos da melhor das adrenalinas, a que não se compra nem trafica, apenas se consome de forma livre e nas doses que conseguirmos encaixotar no nosso quotidiano imparável.
Se eu poderia viver sem natureza à minha volta? Poderia, mas seria apenas uma metade do que hoje sou, como uma árvore que ainda se mantém de pé, mesmo depois de já não ter seiva...

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Futuro...


"São os nossos pequenos afazeres que nos projetam para o amanhã, o depois de amanhã, para o futuro."
Grégoire Delacourt

Dá-se por terminada mais uma fase de pousio. Descansou-se a terra do cérebro, regou-se a alma com a doçura da Páscoa, revolveu-se a vida abrindo sulcos de sorrisos que fizeram brotar gargalhadas…
Agora é tempo de voltar à rotina que nunca será demasiado monótona, pois ainda se acredita no efeito surpresa do Destino. Evita-se fazer prolepses para todo o trabalho que nos espera, porquanto se pretende degustar os últimos momentos de tranquilidade. 
Sabe-se que a vida que se escolheu nem sempre é perfeita... Quantas vezes nos desgasta, outras nos desencanta e até nos ameaça esgotar a resiliência? Mas é com ela que ainda queremos pintar o futuro. É nela que vemos as cores que escolhemos para enfeitar os nossos sonhos e os dos que nos passam pelas mãos.
Afadigamo-nos, por isso, nos preparativos para o regresso. Não nos renovamos por inteiro, mas refrescamos as vestes da nossa força de vontade. Haja trabalho, haja futuro, haverá forças e haverá Vida!

domingo, 5 de abril de 2015

"Vivam, apenas!"


"Vivam, apenas.
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes.

Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.

Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.

E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.

Vivam, apenas.
A morte é para os mortos!"

José Gomes Ferreira

É uma mensagem perfeita para Dia de Páscoa. Embora não possamos deixar de sofrer por causa dos cadáveres que já foram de carne e osso e que antes partilhavam este dia connosco. Sei de quem os traz ainda frescos na memória e sente ainda o frio que a sua ausência deixou no lugar do sofá domingueiro.
Mas também sei que isso não nos impede de sermos bons como o sol e de brilharmos na vida uns dos outros, aquecendo-nos mutuamente. Sei que a liberdade do vento está ao nosso alcance, se deixarmos a preguiça do conforto e esticarmos as asas encolhidas pela inércia. Sei que podemos deixar brotar de nós um manancial inesgotável de frescura e de novidade e que podemos ser fonte de inspiração para os que nos rodeiam ou para os que olham para nós como modelos a seguir. Sei que não é impossível florirmos o rosto e a alma com as melhores cores do nosso sorriso e que isso pode dar o fruto da alegria nos ambientes que frequentamos.
E os cardos que nos querem envolver e tolher os nossos movimentos? E os espinhos que se cravam na carne do nosso viver e que nos sufocam a gargalhada? E a Morte que espreita a cada esquina e que vai ceifando aqui e ali, como lembrete de que não se esquecerá de nós nem dos nossos?
Tudo isso também é real. Tudo isso também é Vida. Tudo isso também fala alto e relembra: 
Vivamos, apenas!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O que importa?


"Todos os sofrimentos são permitidos, todos os sofrimentos são recomendados; o que importa é seguir em frente, o que importa é amar."
Françoise Leroy

Despedimo-nos da dor de um dente de siso arrancado e isso faz-nos recordar outras dores já vividas, já esquecidas, já passadas. Dores psicológicas, daquelas que não se tratam com ibuprofeno mas que demoram a desvanecer, tanto que às vezes ainda as sentimos, como dores-fantasma, embora os membros que as provocavam já quase tenham desaparecido da nossa vida…
Talvez pensássemos que nunca nos abandonariam, que a nossa sina era viver com elas para sempre. Às vezes esquecíamos que nos doía, tal era o hábito de as tolerar. Agora que se foram, o que importa?
Saber quando nos curamos ou porquê? Não há momento exato nem antídoto identificável. Apenas uma certeza: o tempo ajuda, embora não resolva nada sozinho. Então, o que importa?
Importa que há vida para além do sofrimento; que ninguém é insubstituível ou eterno no nosso coração; que as cores primaveris voltam sempre, por mais desolador e gelado que seja o inverno do nosso descontentamento; que há um sorriso pronto a florir em cada canto da nossa boca; que as surpresas não se armazenam em pacotes finitos e que nós encontramos sempre novos momentos para amar...

sábado, 28 de março de 2015

Razão?


"(…) perante as jogadas que o destino nos apresenta inesperadamente à frente, por vezes não se pode aplicar a razão."
María Dueñas

Por mais que queiramos. Por mais que a transição nos custe. Por mais que evitemos ceder às emoções. Mas é delas que estamos cheios. São elas que transbordam de nós como de um copo cheio. Mesmo quando queremos que a razão grite e vença. Ou até que dê uns bons socos na mesa e se imponha. Mas não adianta. Deixemos que elas se libertem quando tiver de ser.
Até porque chegará o tempo em que tudo se terá esbatido, em que já não nos sentiremos assim, em que só a razão prevalecerá. E aí estaremos, de novo, tranquilos, superiores a tudo, soberanos na força da nossa vontade. Mais sós? Nada disso! Mais nós!

quinta-feira, 26 de março de 2015

Momentos...


"A vida é uma série de momentos, e os momentos estão sempre a mudar, tal como os pensamentos: ora são negativos, ora positivos. E ainda que remoer nas coisas seja algo que faz parte da condição humana, é absurdo, é absurdo permitir que um pensamento habite a nossa mente, porque os pensamentos são como visitas, ou amigos de ocasião. Tão depressa aparecem como desaparecem, e até mesmo aqueles que demoram muito tempo a desabrochar por completo podem desvanecer-se num instante. Os momentos são preciosos; às vezes, prolongam-se no tempo e, outras, são fugazes. Contudo, há tanta coisa que podemos fazer com eles (…)"
Cecelia Ahern

Há uma coisa preciosa que podemos fazer com eles: deixá-los prolongarem-se sem pressas… Acordar de manhã e sentir os raios de sol acariciarem-nos a vista e servirem de despertador; desfrutar do aconchego dos lençóis sem o habitual salto precipitado para fora da cama; inverter a ordem das ações mecanizadas da rotina; viver um pouco de pijama vestido e passear preguiçosamente pela casa, de janela para janela, para ver as várias faces da primavera são tudo momentos que é tão bom que não sejam sempre fugazes.
Ter tempo para os saborear com o café da manhã é uma das viagens obrigatórias da nossa vida que devemos fazer sempre que possível. Não é preciso fazer as malas e ir para um lugar exótico ou tropical para vermos as cores da vida de forma mais intensa. Às vezes só é preciso travar. Pôr o piloto automático. Tirar a chave da ignição. Parar.
E a vida vem até nós com toda a sua pujança, com todo o seu manancial inesgotável de momentos que sempre estiveram ao alcance de um minuto ou dois para os podermos saborear. Inebriemo-nos, pois, deles e sintamo-nos cheios de energia renovada, aquela que faz com que cada hoje contenha em si a promessa de tantos amanhãs...

quarta-feira, 4 de março de 2015

Sweet moments...


"The character and quality of our life is forged in little moments."
Paul David Tripp

Assim como o açúcar fica no fundo de uma chávena, também a doçura da vida se aloja por vezes no fim de um dia extenuado… Por mais que a tentemos fazer vir ao de cima, desconhecemos o seu sabor até que ele se manifesta nos últimos instantes, persistindo na nossa memória gustativa…
Acontecem assim os pequenos grandes momentos que dotam a nossa existência de qualidade e que nos fazem sorrir de expetativa por cada amanhã… Quiçá quando mais um quadradinho de açúcar será adicionado ao nosso destino, em jeito de recompensa inesperada?

domingo, 1 de março de 2015

Tempus fugit...


"Time flies over us, but leaves its shadow behind." 
Nathaniel Hawthorne

A vida é como um aeroporto, feita de chegadas e partidas. E é quando assistimos, ainda que de longe, às despedidas dos que ficam que desejamos que a corda do relógio do nosso Tempo se parta para que os nossos permaneçam connosco, como que cristalizados num agora feliz e sem ausências…
Sabemos como isso é impossível, por isso passamos para o extremo inverso. Estreitamos cada segundo passado com eles com tanta força que quase os esmagamos de intensidade. Queremos beber cada passagem do ponteiro e saciar-nos da companhia dos que nos são próximos.
E depois a vida ultrapassa-nos, quer pela esquerda, quer pela direita, sem nunca levar multas ou sequer avisos por excesso de velocidade, e esquecemo-nos de que estamos no palco para receber e ver partir. Engrenamos a quinta velocidade para acompanharmos o ritmo do quotidiano e a urgência que sentíramos anteriormente esvai-se, substituída pela correria de fazer tudo em vinte e quatro horas. Até que sejamos público para mais um espetáculo de dor e lágrimas… Até que chegue também a nossa vez...

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Simply the best!


"Be yourself, but always your better self."
Karl G. Maeser

Tentamos dar sempre o nosso melhor. Todos temos dentro de nós essa capacidade de nos superarmos a nós próprios, colocando a fasquia cada vez mais elevada e ganhando balanço cada vez mais ao fundo para a transpor. Nem sempre o conseguimos, porém.
Tantos são os dias em que conduzimos para casa ao som do cansaço do fim de mais uma jornada de labuta e trauteamos baixinho a impotência de apagarmos todos os fogos, de acudirmos a todas as aldeias, de subirmos a todas as árvores e salvarmos todos os que se encontram em apuros à nossa volta. Sentimos que falhamos em tantas esferas; debruçamos o pensamento sobre as vidas dos amigos que não conseguimos acompanhar como desejaríamos; pagamos a conta das compras no caixa do hipermercado, mas ficamos a dever à nossa consciência o "olá" apressado que dirigimos a um alguém a quem outrora dedicamos mais tempo e atenção…
Somos assim porque não temos o dom da ubiquidade ou da omnipresença… Sabemo-lo, mas continuamos a tentar ser o melhor de nós… E tudo o que tentamos ganha outra cor quando recebemos de volta um gesto inesperadamente aromatizado de Amizade… E isso basta para prosseguirmos!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Wings...


"If you love something, set it free. 
If it comes back to you, it's yours. 
If it doesn't, it never was."

Pode-se levar algum tempo útil de vida a tentar perceber este facto. Sim, porque agora sabe-se que é um facto. E lamenta-se o tempo desperdiçado nos passados da nossa cronologia a tentar segurar alguém ao nosso lado e do nosso lado. Infantilidade emocional, talvez… Adiante…
Na idade adulta do coração, amadurecido à força de alguns encontrões, beliscões e pontapés, hetero ou auto-infligidos, recostamo-nos no conforto tranquilo de o saber agora. Porque isso poupa-nos trabalho e canaliza a nossa energia para outros campos bem mais frutíferos.
Às vezes ainda nos surpreendemos com aqueles que quiseram ficar embora pudessem ter voado para bem longe. E também nos entristecemos se pensamos nos que gostaríamos que tivessem ficado, mesmo que tivessem asas tão belas e imensas que só fazia sentido que voassem.
É na plataforma central destas partidas e chegadas que vamos sendo quem somos, amados por quem nos quer amar, acarinhados por quem nos sabe acarinhar, acompanhados por quem quer a sua mão na nossa. E os outros? Os outros gravitam no mesmo universo que nós, mas só podem aterrar se for essa a sua intenção de órbita. Sem amarras ou âncoras. Só porque nós estamos aqui e eles querem estar no nosso ângulo de presença...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

A brincar… se vive!


"A vida é séria de mais para não ser levada a brincar.
Nós brincamos. Quando se brinca os dias ficam curtos, os problemas parecem pequenos. Quando se brinca a solução parece mais fácil, chega primeiro.
Rir não é o melhor remédio; é o único remédio."
Pedro Chagas Freitas

Eu brinco. Quem que me conhece sabe como brinco e como não consigo estar muito tempo séria. Mesmo que o assunto seja sério. Porque quando o caso é sério, pode ficar um caso sério se nunca formos capaz de rir sobre ele.
O nosso lado de criança não pode sobreviver se não o alimentarmos com sorrisos, risos, gargalhadas, lágrimas de tanto rir. E se o nosso lado de criança atrofiar, viveremos uma velhice antecipada todos os dias da nossa vida, encarcerados num lar de terceira idade para a alma. 
É por isso que brinco e rio, no meu próprio pensamento, procurando sempre o lado mais hilariante de cada situação. É por isso que brinco e rio no trabalho, onde tenho a sorte de ter a minha segunda família que treslouca e ri comigo. 
E no dia em que eu deixar de rir, internem-me ou enterrem-me porque (des)enlouqueci ou faleci...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Memórias...


"Find time for happiness because the only gifts that last are memories."
Lullaby (movie)

Colecionamos moedas porque queremos poupar para o futuro, para a reforma, para a velhice. Gastamos os dias para poupar alguns trocos. Trocamos momentos de lazer por outros de labuta. Labutamos sem descanso, cansando-nos e aos que nos rodeiam com o nosso dispêndio exagerado de energia. Enérgicos continuamos no dia seguinte, mesmo quando na noite anterior sucumbimos à exaustão.
E em tudo isto vamos hipotecando segundos, minutos, dias, meses, anos, vidas… E pagamos juros cada vez mais elevados à medida que o tiquetaque do relógio psicológico nos pressiona a parar e a fruir… Ignoramos esse apelo na maior parte das vezes porque o grito de todas as tarefas que se amontoam, ensurdecedoras, é mais forte e mais premente.
Mas depois há aqueles dias em que nos limitamos a parar. Por uns instantes apenas ou por algumas horas. Em boa companhia. Regados por um bom copo de vinho, por um descafeinado outrora café, por um cappuccino com ar requintado. 
Interessa a que sabe o momento? Não. Importa como sabe bem. E como resgatamos uma parte de nós apenas porque paramos. E falamos. E ouvimos. E sentimos. E sorrimos. E gargalhamos. E somos o que fomos. E fomos o que somos. Um pedaço de vida que se agita, que se mexe e remexe na cadeira porque não se deixou acorrentar pela rotina. Haja momentos assim. Ámen.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Amizade(s)...


"Quando nos confrontamos com a amizade sentimos todos a dificuldade de exprimi-la, pois entramos num campo onde não há espaço para muitas declarações, e soam despropositados os longos discursos… Existem, sim, histórias de vida. Existem nomes, rostos, vivências… Existe o indizível da presença, a coreografia fiel e criativa dos gestos. (…) Não é por acaso que, nas nossas sociedades, o amor acabe por ser tutelado institucionalmente, mas não há nenhuma lei escrita que tutele a amizade. Há uma ética da amizade, mas essa vem apenas inscrita nos corações. (…)
Um amigo, por definição, é alguém que caminha a nosso lado, mesmo se separado por milhares de quilómetros ou por dezenas de anos. O longe e a distância são completamente relativizados pela prática da amizade. De igual maneira, o silêncio e a palavra. Um amigo reúne estas condições que parecem paradoxais: ele é ao mesmo tempo a pessoa a quem podemos contar tudo e é aquela junto de quem podemos estar longamente em silêncio, sem sentir por isso qualquer constrangimento. (…) Há aquele ditado que diz: "viver sem amigos é morrer sem testemunhas". A diferença entre os conhecidos e os amigos é a mesma que distingue um ocasional espetador daquele que está habilitado a testemunhar. Este último disponibiliza-se realmente a ser presença."
José Tolentino Mendonça

Muito se pode, de facto, dizer e escrever sobre a amizade e sobre as nossas diferentes amizades. Poderia alongar-me em panegíricos, mas isso não me faria chegar mais perto da importância que atribuo aos meus amigos. Sobretudo àqueles que se mantêm tão silenciosos como espetadores, mas que estão sempre prontos a testemunhar o seu carinho por mim quando menos o espero e talvez mais o precise.
Vivo vários conceitos de amizade na minha existência. Não os consigo definir, nem arranjar motivos para serem como são. Simplesmente coexistem no meu território emocional. E estão pendurados no meu coração como este lema que me chegou pelas mãos de uma amiga… Porque viver é assim mesmo: arranjar sempre lugar no coração para pendurar alguém que lá merece estar e que nos inspira a viver mais e melhor todos os dias...

domingo, 25 de janeiro de 2015

Lição de vida...


"É preciso dizer aos outros que gostamos deles. É preciso dizer que nos fazem bem. Que na velocidade dos dias são quem dá sentido à vida. É preciso dar abraços apertados, partilhar gargalhadas, e planos, dúvidas, medos e colo.
É preciso dar sempre a mão a quem amamos, dar um ombro e o coração a quem precisa de nós, escutar o outro como se fosse uma oração, ser sol em dias de chuva.
É preciso aprender que ninguém perde por dar amor, perde quem não sabe receber. Que ninguém fica mais pequeno porque perdoa, e ninguém é menos forte porque perdoa o que (e quem) lhe fez mal.
Tenta mais uma vez. Refaz. Recomeça. Descomplica.
A vida é para quem não perde a esperança nem o bom humor. A vida é para quem não se demora em ser feliz."

Tenho-me deparado várias vezes com este pequeno texto nas redes sociais. Não está assinado, não sei de quem é, mas sei que me arrepio de cada vez que o leio. Por isso, hoje decidi partilhá-lo e refletir sobre ele.
E ao fazê-lo, percebi que é mais uma lição de vida. E tentei verificar se a tenho seguido. Como se fosse uma checklist para concluir como anda o meu percurso por este campus universitário que é a vida. Aqui vai:
Costumo dizer aos outros que gosto deles. Mas posso dizê-lo ainda mais vezes, sem o guardar para mim, só porque os outros (já) não o dizem também. Tenho por hábito reforçar o bem que me fazem e o sentido que me ajudam a encontrar nesta existência. Mas posso fazê-lo ainda com mais ênfase. Não dou tantos abraços apertados como poderia, mas abuso das gargalhadas. Não sou de partilhar planos, dúvidas nem medos. Guardo tudo isso para mim própria e casulo-me com essa parte só minha. Não procuro colo, nem disponibilizo o meu a qualquer pessoa, mas aqueles que realmente importam sabem quando e como se podem aninhar.
Estendo a mão para aqueles que amo, mas retraio-a se não me correspondem e nem sempre tenho coragem de a voltar a esticar. Tento receber tudo o que me dão de portas da alma abertas. Perdoo, perdoo sempre, uma e outra vez, embora demore e não esqueça.
Não sou de desistir, mas quando abandono é para sempre. Refaço, recomeço, descomplico, mas também sei complicar.
Não perco a esperança nem o bom humor (este último, nunca!). Tento ser pontual na minha própria felicidade, mas às vezes atraso-me porque faço alguns desvios.
Resultado da auto-análise: estou viva, sou Eu própria e tentarei continuar a dar o meu melhor, sempre!

domingo, 11 de janeiro de 2015

Free to be...


"Hello. My name is Stephen Hawking - physicist, cosmologist and something of a dreamer. Although I cannot move and I have to speak through a computer, in my mind, I am free."

Hoje vi o filme baseado na vida deste homem que foca sobretudo a história do seu primeiro amor e do seu casamento. Acabei a pensar que realmente tudo é possível, o que se adequa ao título "A Teoria de Tudo". Como consegui-lo?
Stephen dá-nos a receita para isso: libertar o nosso cérebro, não deixar que nada o aprisione, nem os medos, nem as desilusões, nem as maleitas do corpo. Se acreditarmos na nossa capacidade de pensar e de criar mais vida através do nosso raciocínio nada nos pode deter.
Pensamos assim por um pouco e sentimo-nos mais leves, mais livres, mais libertos de tudo o que nos agrilhoa. Levitamos acima das nossas limitações e olhamos de frente para mais um dia, para mais uma semana, para mais uma sucessão de desafios que nos esperam. E queremos que a sensação se prolongue, para imaginarmos, nem que por instante apenas, que a nossa essência é invencível… E é e será!

domingo, 4 de janeiro de 2015

Laços...



"If you want to go fast, go alone.
If you want to go far, go together."
African Proverb

Às vezes estamos tão absorvidos pelas nossas resoluções de ano novo ocidentais que nos esquecemos do sofrimento que envolve como uma aura escura outras zonas do globo. Para os que as habitam, a primeira entrada da lista de desejos para 2015 terá de ser algo que se relaciona com a sua sobrevivência e a dos que compõem a sua família.
Este filme relembra-nos que essa realidade existe e não está tão distante do nosso tempo como gostaríamos de acreditar para manter a nossa consciência mais serena. Mas também nos mostra a força dos laços que se forjam no contexto da desgraça e que nenhuma calamidade consegue cortar.
Se o sentimento da gratidão nos visita e nos invade muitas vezes, não conseguimos, no entanto, abarcar a dimensão de uma dívida que contém a nossa própria vida. Vida com vida se paga e é dos corações mais massacrados pela dor de uma vida madrasta que brotam os mais abnegados sacrifícios. Que esse espírito não se limite a roçar a nossa existência, mas que nos toque e nos possa impelir a ser melhores do que nós próprios, a cada ano, a cada dia, a cada instante...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Chocolate quente para a alma...


É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?

É isto um livro, esta espécie de coração
(o nosso coração)
dizendo "eu" entre nós e nós?
Manuel António Pina

Gosto de pessoas. Tenho uma profissão de pessoas. Convivo com elas diariamente. Alunos, colegas, pais, uma teia de relações humanas que se junta às outras que cultivo na minha vida pessoal. Umas têm um padrão bonito, definido e invejável. Outras são como um emaranhado em que me sinto enredada já há vários anos e do qual não me consigo (nem quero!) soltar.
Por isso, quando pauso, agarro-me aos livros e ao seu silêncio cheio de palavras e sons. Sorvo-os como um chocolate quente que me adoça e aquece a alma, fazendo-me evadir de todas as histórias que habitam o meu quotidiano para me levarem até outras, onde me refugio, mas também me revejo; onde despisto os meus problemas, mas também os encontro nos das personagens que me fazem companhia.
Se podia ficar assim o ano inteiro? Talvez pudesse… Mas que chocolate quente nos saberia bem se houvesse apenas verão? É o frio do inverno que nos faz ansiar por ele. Assim é com o bulício do meu dia a dia que me faz valorizar ainda mais os momentos em que embalo um livro e adormeço qualquer angústia ou dor...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

New Year, same blog!


"O otimismo é a pedra basilar da coragem."
Emily Giffin

Preencho a primeira página de mais um ano com esta nota positiva. E este cantinho onde a registo festeja mais um aniversário. Ainda me lembro de quando o criei, há cinco anos atrás, imbuída do otimismo que sentimos ao abraçar um novo projeto, animada pelo reforço positivo dos que me apoiaram.
Cinco anos depois, o otimismo não desvaneceu por completo, mas às vezes vacila. Sente-se a falta do incentivo de algumas pessoas que foram ficando pelo caminho. E isso deixa marcas na pele da alma. Continua-se, no entanto, porque a escrita é parte de nós. Se o tempo fosse perfeito, cada ano teria 365 entradas, pelo menos uma por dia. Mas o tempo não para. E, enquanto não entra no sprint final, damos tudo por tudo para o acompanhar.
E nas pausas para reabastecer o ânimo vamos passando por aqui. E refletindo. E escrevendo. E sendo mais nós. Porque escrever pode ser como rezar. Deixa-nos mais leves e ao mesmo tempo mais fortes. Como se uma mão invisível e superior a nós nos acariciasse e limasse essa nossa pedra basilar do otimismo. Polida e a brilhar, ela mantém-nos em equilíbrio e permite-nos continuar. Por mais um ano… Por mais um resto de vida...