Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

sábado, 8 de agosto de 2015

Fendas...


"(…) todos temos fendas. Como se todos nós começássemos por ser um pequeno barco. Depois vão-nos acontecendo coisas: pessoas abandonam-nos, ou não nos amam, ou não nos percebem, ou nós não as percebemos a elas, e perdemos, falhamos e magoamo-nos uns aos outros. E o barco vai abrindo pequenas fendas. E, sim, quando o barco abre fendas, o fim torna-se inevitável. (…) Mas há imenso tempo entre o momento em que as fendas começam a aparecer e o momento em que finalmente nos afundamos. E é só durante esse tempo que podemos ver-nos uns aos outros, porque conseguimos ver para fora de nós mesmos através dessas fendas e para dentro dos outros através das fendas deles. (…) quando se abrem fendas no barco, a luz consegue entrar. A luz consegue sair."
John Green

Revejo-me nesta sucessão de metáforas. Ao longo dos anos, fui (e não fomos todos?) colecionando fendas. Este pequeno e frágil barco que sou há muito que deixou de ter um casco imaculado e resistente a todas as tempestades. Fustigado por ventos e marés mais agrestes, foi ficando com alguns rombos. Alguns foram tão grandes que temi o naufrágio das forças, o afogamento da alma. Mas aqui estou.
Por esses rombos fui espreitando e conhecendo outras embarcações como eu. Fui estendendo a mão e aceitando ajuda para os remendos ou esticando os braços e colaborando nas reparações dos outros. E assim fui (e vou) navegando, mais cautelosa e evitando mares desconhecidos para não ser apanhada em tempestades inesperadas.
Mas não desisti de procurar a luz. Quando ela se derrama pelas fendas do meu barco, agarro-me a ela. Às vezes é apenas um fogo-fátuo passageiro, de outras nem chega a ser um pirilampo. Instantes, dias, experiências, pessoas… Sempre que trazem raios de luz deixo-os aquecerem-me. E a travessia fica mais confortável e a pele da alma mais aconchegada. Prossigamos...

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