Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Noturno (mas não de Chopin)...


"Quando apagam a luz do quarto a noite deita-se em cima do meu corpo, de mistura com os passos no corredor que se transforma num espaço infinito de ecos e, às vezes, dos pezinhos da tristeza que, não sei como, chegou ao pé da cama e pode ser que me lamba uma das mãos, cortando-me, como uma faca, o medo pelo meio, eu tão sozinho, tão indefeso, tão frágil."
António Lobo Antunes

E assim, em poucas palavras, o Grande Lobo Antunes, companheiro de tantas crónicas servidas com um defunto café, agora transformado em descafeinado, resume aquele estado de espírito onde todos merecemos habitar por vezes... Por mais luz que haja dentro de nós, também temos o direito de escurecer... Até porque sempre que nos "apagamos" estamos já a pensar na subida do regresso às manhãs, à luz, às cores que carregamos e que hão-de querer voltar a explodir... E o amanhã nem sempre é longe demais...

domingo, 26 de janeiro de 2014

Words...


"Words are life."
"The Book Thief" (movie)

Fico sempre curiosa quando surge um filme baseado num livro que já li. Raras são as vezes em que o cinema suplanta a literatura, mas é sempre bom poder assistir à interpretação feita e compará-la com a nossa, encontrar semelhanças entre as personagens que idealizamos e as que vemos no ecrã ou antecipar se a nossa cena preferida teve direito a ser protagonizada. Sabemos que, de facto, as palavras são vida e que, quando as lemos, ganham a forma e a cor que lhes atribuímos. E esse poder de metamorfose de leitor para leitor é a sua maior riqueza... Como diria a Morte, narradora do livro e do filme: "So many humans, so many colours...

Inteligência...


"A inteligência é a única qualidade humana que não se pode fingir."
Paul Auster

Acabei há pouco de ler o Diário de Inverno de Paul Auster. E gosto sempre de escrever qualquer coisa quando ainda estou sob o efeito de um livro inteligente... De facto, a inteligência é aquela qualidade que sobressai de todas as que admiro em alguém. Acredito que ela se tem, à partida, mas que se pode e deve desenvolver, através dos mais simples e fáceis atos: ler, ouvir, falar, ver, pensar e, sobretudo, partilhar... Toda a inteligência que não é partilhada constitui um desperdício de vida humana. Mas será que essa partilha terá de ser obrigatoriamente feita sob a forma de algo para mostrar ao mundo, como um livro, um filme ou qualquer outro tipo de arte? Não necessariamente... A melhor forma de partilhar a inteligência será aplicá-la na maneira como levamos a nossa vida. Sorrir, rir, dedicarmo-nos àqueles de quem gostamos, aproveitar os pequenos-grandes momentos que vão despontando na existência são tudo sinais de inteligência... Bem como saber prolongá-los até ao fim desta nossa travessia... Como disse Joubert, citado por Auster no livro que vou colocar na estante dos já-lidos, "Devemos morrer amáveis (se pudermos)".

domingo, 19 de janeiro de 2014

Moments...


"Moments, our life is a series of moments, each one a journey to the end. Let them go, let them all go, our life is a series of moments. This, right here, right now, is definitely a moment."

E se não precisamos de um filme para o relembrar, porque infelizmente a vida encarrega-se de no-lo provar, algumas lágrimas depois sentimo-nos mais vivos, mais cheios de listas de coisas a fazer antes daquele momento que será o derradeiro... Mesmo que essa lista não contenha nada de extraordinário, mas tão somente alguns momentos de simples prazeres que gostaríamos de prolongar... E que no fim possamos olhar para trás e dizer sobre todos os itens: "Check!"

domingo, 12 de janeiro de 2014

Céu de Inverno...


"Toda a vida é contingente, à exceção do único facto necessário de que, mais cedo ou mais tarde, chegará ao fim."
Paul Auster in Diário de Inverno

Paul Auster é bom conselheiro e, como tem sido o meu companheiro do mundo da literatura nestes dias de gelada invernia, levei-o comigo para onde pudesse contemplar este céu de Inverno (claro que levei comigo a manta e o chocolate quente e que me mantive dentro de casa, passando apenas para a janela!). Pus-me a pensar na bela imensidão que é o firmamento e fiquei com pena de a nossa Vida não ser assim: infinita... Mas logo afastei esse peso da alma porque sei que, só por a podermos preencher com momentos de tranquila beleza como este, ela compensa por nos falhar um dia... Enquanto a temos, cumpre-nos contemplá-la como se não tivesse fim, porque se não o fizermos estaremos a dá-la por terminada quase antes de começar... 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Reescrita...


"Um livro é tanto do leitor como do escritor, pois o leitor reescreve-o constantemente."
Pepetela

E essa reescrita é tão minha que jamais me cansarei de a fazer ou de a celebrar. Já perdi a conta ao número de vezes em que escrevi aqui sobre o ato de ler, sobre a minha paixão pela leitura, sobre os livros que vou acumulando às camadas nas estantes e dentro de mim... Transformam-se, decerto, em degraus que vou subindo ao encontro de uma sabedoria cada vez mais serena, aquela que me prova que, onde houver livros, nunca encontrarei a verdadeira solidão... 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Lealdade...


"Eu compreendo a infidelidade no amor, mas não a compreendo na amizade."
António Lobo Antunes

A história de Hachiko (baseada em factos verídicos) é, na verdade, uma lição de amizade e de lealdade. Encontrar amigos verdadeiros nos dias que correm pode não ser tarefa fácil, mas o que se torna mais difícil ainda é manter a amizade viva... A estação da vida está sempre apinhada de gente, há constantes comboios que nos levam para direções opostas, relógios com fusos horários imparáveis que é preciso cumprir, distrações a que se torna quase impossível resistir. Por vezes, quase parece que um grande amigo partiu, tamanha passa a ser a distância que nos separa ou o fosso temporal que nem sempre conseguimos atravessar para ir ao seu encontro. É nessas alturas que devemos fazer como Hachi: ter fé, ser leal e acreditar. Porque isso, sim, é Amizade e quando se trata disso mesmo havemos de pairar juntos sobre a própria existência e sobreviver-lhe...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Feliz Ano Novo, Blogue!


"Os moinhos dos deuses são lentos, mas têm a moagem mais fina."
Liza Klaussmann

E nessa moagem dos grãos do tempo, planeada pelos moinhos do Universo, se passou mais ano... Como já vem sendo tradição, venho aqui assinalar outro ano de passagem deste cantinho. Hoje decidi fazê-lo com esta banda sonora, uma versão do famoso poema escocês que se tornou quase um hino da passagem de ano.
Escolhi-o porque o virar das páginas do calendário nos faz pensar e desejar o que a letra nos transmite. No espetro temporal de mais um ano, muito se viveu, talvez muito mais se desejasse ter vivido. As aventuras foram-se sucedendo, algumas sem oportunidade de serem sequer refletidas ou contadas. Talvez os mares (reais ou não!) nos tenham separado daqueles de quem gostávamos de estar mais próximos e podemos até ter remado ou navegado em direções opostas. E pode ser que muitos conhecidos tenham até sido esquecidos este ano...
Mas aos que na realidade fazem parte de nós e do que somos e do que queremos continuar a ser, sabemos que, por mais que passem os anos, podemos dizer-lhes sempre, no início de mais um ano, "we'll take a cup o'kindness yet", porque será com esse copo de bondade, sinceridade e amizade que brindaremos ao que a Vida tem de melhor: os laços que vamos criando enquanto os deuses moem o nosso destino.
Tchim-tchim a mais um ano neste cantinho e na Vida!