Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

domingo, 26 de abril de 2015

Wilderness...


"It only had to do with how it felt to be in the wild. With what it was like to walk for miles for no reason other than to witness the accumulation of trees and meadows, mountains and deserts, streams and rocks, rivers and grasses, sunrises and sunsets. The experience was powerful and fundamental. It seemed to me that it had always felt like this to be a human in the wild, and as long as the wild existed it would always feel this way."
Cheryl Strayed in "Wild"

Sair de nós próprios, do nosso casulo, espraiar as asas e caminhar… Deixar que as pernas se cansem e os pulmões se encham, que os pés se movam e as vistas se regalem… Absorver a pureza do ar, captar o verde da paisagem, carregar as solas dos pés com a força da terra que, apesar de batida, nunca desvanece…
É, pois, vital fazer pausas na azáfama cheia de papéis da semana e ir ao encontro do vazio das preocupações, da ausência de documentos para ler, elaborar e preencher. Injetarmo-nos da melhor das adrenalinas, a que não se compra nem trafica, apenas se consome de forma livre e nas doses que conseguirmos encaixotar no nosso quotidiano imparável.
Se eu poderia viver sem natureza à minha volta? Poderia, mas seria apenas uma metade do que hoje sou, como uma árvore que ainda se mantém de pé, mesmo depois de já não ter seiva...

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Futuro...


"São os nossos pequenos afazeres que nos projetam para o amanhã, o depois de amanhã, para o futuro."
Grégoire Delacourt

Dá-se por terminada mais uma fase de pousio. Descansou-se a terra do cérebro, regou-se a alma com a doçura da Páscoa, revolveu-se a vida abrindo sulcos de sorrisos que fizeram brotar gargalhadas…
Agora é tempo de voltar à rotina que nunca será demasiado monótona, pois ainda se acredita no efeito surpresa do Destino. Evita-se fazer prolepses para todo o trabalho que nos espera, porquanto se pretende degustar os últimos momentos de tranquilidade. 
Sabe-se que a vida que se escolheu nem sempre é perfeita... Quantas vezes nos desgasta, outras nos desencanta e até nos ameaça esgotar a resiliência? Mas é com ela que ainda queremos pintar o futuro. É nela que vemos as cores que escolhemos para enfeitar os nossos sonhos e os dos que nos passam pelas mãos.
Afadigamo-nos, por isso, nos preparativos para o regresso. Não nos renovamos por inteiro, mas refrescamos as vestes da nossa força de vontade. Haja trabalho, haja futuro, haverá forças e haverá Vida!

domingo, 5 de abril de 2015

"Vivam, apenas!"


"Vivam, apenas.
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes.

Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.

Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.

E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.

Vivam, apenas.
A morte é para os mortos!"

José Gomes Ferreira

É uma mensagem perfeita para Dia de Páscoa. Embora não possamos deixar de sofrer por causa dos cadáveres que já foram de carne e osso e que antes partilhavam este dia connosco. Sei de quem os traz ainda frescos na memória e sente ainda o frio que a sua ausência deixou no lugar do sofá domingueiro.
Mas também sei que isso não nos impede de sermos bons como o sol e de brilharmos na vida uns dos outros, aquecendo-nos mutuamente. Sei que a liberdade do vento está ao nosso alcance, se deixarmos a preguiça do conforto e esticarmos as asas encolhidas pela inércia. Sei que podemos deixar brotar de nós um manancial inesgotável de frescura e de novidade e que podemos ser fonte de inspiração para os que nos rodeiam ou para os que olham para nós como modelos a seguir. Sei que não é impossível florirmos o rosto e a alma com as melhores cores do nosso sorriso e que isso pode dar o fruto da alegria nos ambientes que frequentamos.
E os cardos que nos querem envolver e tolher os nossos movimentos? E os espinhos que se cravam na carne do nosso viver e que nos sufocam a gargalhada? E a Morte que espreita a cada esquina e que vai ceifando aqui e ali, como lembrete de que não se esquecerá de nós nem dos nossos?
Tudo isso também é real. Tudo isso também é Vida. Tudo isso também fala alto e relembra: 
Vivamos, apenas!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O que importa?


"Todos os sofrimentos são permitidos, todos os sofrimentos são recomendados; o que importa é seguir em frente, o que importa é amar."
Françoise Leroy

Despedimo-nos da dor de um dente de siso arrancado e isso faz-nos recordar outras dores já vividas, já esquecidas, já passadas. Dores psicológicas, daquelas que não se tratam com ibuprofeno mas que demoram a desvanecer, tanto que às vezes ainda as sentimos, como dores-fantasma, embora os membros que as provocavam já quase tenham desaparecido da nossa vida…
Talvez pensássemos que nunca nos abandonariam, que a nossa sina era viver com elas para sempre. Às vezes esquecíamos que nos doía, tal era o hábito de as tolerar. Agora que se foram, o que importa?
Saber quando nos curamos ou porquê? Não há momento exato nem antídoto identificável. Apenas uma certeza: o tempo ajuda, embora não resolva nada sozinho. Então, o que importa?
Importa que há vida para além do sofrimento; que ninguém é insubstituível ou eterno no nosso coração; que as cores primaveris voltam sempre, por mais desolador e gelado que seja o inverno do nosso descontentamento; que há um sorriso pronto a florir em cada canto da nossa boca; que as surpresas não se armazenam em pacotes finitos e que nós encontramos sempre novos momentos para amar...