Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Passa o tempo...


"Assim vamos persistindo, como barcos contra a corrente, incessantemente levados de volta ao passado."
F. Scott Fitzgerald

Quando achamos que já estamos seguros, no mar alto a caminho de futuro, e que nenhum fantasma ou nenhuma sombra do que deixamos para trás nos conseguem alcançar, eis que os sentimos pairar sobre nós e que nos vemos envolvidos em memórias, em lembranças e, por vezes, em lágrimas saudosas…
Não vale, pois, a pena gastar demasiadas forças a remar contra a corrente… Não compensa acelerar em demasia a caminho de um desconhecido que poderá ser mais nocivo ainda… O melhor que temos a fazer é desfrutar da viagem, descansar em cada porto, apreciar cada nascer ou pôr do sol, saborear a maresia, inspirar a aragem, mergulhar quando o mar nos convida, descansar quando o cansaço nos invade e revisitar esse passado que deixamos como uma galeria de arte…
Ao passearmos pelas suas salas, encontraremos quadros que nos comoverão, outros que nos farão rir… Alguns ser-nos-ão já indiferentes, outros far-nos-ão lamentar a nossa ausência daquele cenário… E porque a Vida é, na sua essência, arte inesperada, caleidoscópica e incansavelmente rica teremos infinitas sensações a brotar de nós de forma natural e inevitável. Façamos disso mais uma etapa da nossa travessia e não uma paragem demorada ou derradeira...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Foi/É Natal...


"Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada."

David Mourão-Ferreira

Foi e ainda é Natal… E nesse estado natalício das coisas podia ter sentido a falta dos que não estiveram comigo. Alguns porque já não pertencem à mesma dimensão que eu, outros porque as suas vidas se redimensionaram sem que a minha se cruzasse com as suas órbitas… Podia ter-me sentido sozinha no meio da azáfama dos preparativos ou do barulho da família (re)unida… Podia ter pausado a alegria própria da quadra e colocado em replay as desilusões, as saudades, as tristezas, os medos…
Não o fiz, nem o farei. Mas pensei e penso nos amigos que este ano perderam alguém e que sentem um vazio mais frio do que o de qualquer gruta ao festejarem o primeiro Natal com essa ausência. Pensei e penso nos que têm alguém próximo a acercar-se do fim e que a todo o custo tentem travar esse passo. Pensei e penso naquela jovem mãe de três filhos, cuja história tenho vindo a acompanhar, que luta contra um cancro violento e contra todos os problemas económicos que dessa condição advêm… Não deixou de ser Natal por eu pensar em tudo isso.
Talvez não tenha dado as mãos a ninguém no gesto físico desse ato. Mas estendi os braços para o firmamento do Universo e tentei tocar com o meu pensamento as linhas que entrelaçam a minha existência com a dessas pessoas. E sei que, em jeito de consoada, lhes servi a minha solidariedade genuína, regando-a com a energia positiva de quem acredita que tudo poderá encontrar o seu rumo certo, seja ou não Natal...