Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Foi/É Natal...


"Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada."

David Mourão-Ferreira

Foi e ainda é Natal… E nesse estado natalício das coisas podia ter sentido a falta dos que não estiveram comigo. Alguns porque já não pertencem à mesma dimensão que eu, outros porque as suas vidas se redimensionaram sem que a minha se cruzasse com as suas órbitas… Podia ter-me sentido sozinha no meio da azáfama dos preparativos ou do barulho da família (re)unida… Podia ter pausado a alegria própria da quadra e colocado em replay as desilusões, as saudades, as tristezas, os medos…
Não o fiz, nem o farei. Mas pensei e penso nos amigos que este ano perderam alguém e que sentem um vazio mais frio do que o de qualquer gruta ao festejarem o primeiro Natal com essa ausência. Pensei e penso nos que têm alguém próximo a acercar-se do fim e que a todo o custo tentem travar esse passo. Pensei e penso naquela jovem mãe de três filhos, cuja história tenho vindo a acompanhar, que luta contra um cancro violento e contra todos os problemas económicos que dessa condição advêm… Não deixou de ser Natal por eu pensar em tudo isso.
Talvez não tenha dado as mãos a ninguém no gesto físico desse ato. Mas estendi os braços para o firmamento do Universo e tentei tocar com o meu pensamento as linhas que entrelaçam a minha existência com a dessas pessoas. E sei que, em jeito de consoada, lhes servi a minha solidariedade genuína, regando-a com a energia positiva de quem acredita que tudo poderá encontrar o seu rumo certo, seja ou não Natal...

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