Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quando nevar, contarei comigo...

Gosto da sensação de acabar um bom livro. Hoje foi um desses dias. O computador manteve-se ligado, como que a chamar-me para o trabalho, mas eu só não o ignorei quando vim blogar... Terminei As Raparigas de Xangai de que já vos falara. É o terceiro livro de Lisa See que leio e adorei-os todos. A mentalidade oriental fascina-me e gosto de encontrar metáforas que são inusitadas na minha própria cultura mas que estão repletas de verdades. Foi o caso, já na parte final do livro, em que encontrei a que escolhi para partilhar convosco, porque está ligada ao que tenho escrito nos últimos posts e tenho vindo a aprender, tornando-me mais forte:
"Podemos sempre contar com as pessoas para nos encherem a festa quando estamos em glória, mas nunca devemos sonhar que nos mandarão carvão quando nevar."

"Nas Nuvens..."



Ontem fui ver o filme "Nas Nuvens" e fiquei a pensar... No fundo, a personagem Ryan Bingham concentra em si todos os receios que assolam a nossa condição humana, levando-os a um extremo. Na vida despreocupada e sem compromissos que leva, encontrou a liberdade que não o prende a nada nem a ninguém. Mas, auto-didacta no campo do sentir, acaba por descobrir sozinho que essa liberdade está a mantê-lo afastado de uma série de outras coisas que pesam bastante na balança final de uma existência. Quando arrisca todas as suas ideias pré-concebidas e vai ao encontro do Amor, da partilha e do compromisso, leva literalmente com a porta na cara e isso torna-o ainda mais parecido connosco quando os nossos relacionamentos desabam. Custa-nos tanto travar o combate entre a razão e a emoção para lhes dar início, tantos são os nossos receios, e quantas vezes saímos magoados e a jurar que nunca mais confiamos em ninguém!


E é aí que erramos porque podemos sempre confiar em nós próprios - lição número um que nos há-de levar às outras todas. E enquanto essa confiança existir teremos sempre a única porta de embarque que nos pode levar ao próximo relacionamento (seja ele amoroso, ou não!), à próxima partilha, ao próximo encontro... Entretanto, e como escreveu o poeta romeno Gellu Naum, teremos sempre, como a personagem de Clooney,
"um amigo em cada pedacinho de nuvem
é o que acontece com os amigos onde o mundo é cheio de medos..."

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A canção foi tirada da Music Box da minha adolescência, no tempo em que a Mariah ainda era ouvida em cassetes, para complementar o primeiro post do dia e do fim-de-semana... Enquanto viver, hei-de continuar a contar com a heroína que vive dentro de mim, mesmo quando precisar de a procurar bem lá no fundo...

Hero

Auto-superação...

Sou daquelas que mantém listas das coisas a fazer... Os meus "to do's" são lençóis de entradas que vou riscando quando me livro delas, para ficarem mesmo com o aspecto de terem sido feitas e bem-feitas (o costumeiro tick do género lista de compras já não chega, é mesmo preciso riscar para a tarefa, tendo sido feita, desaparecer de vez!). Não são raros os dias que chegam ao fim e em que me questiono como consegui fazer tudo aquilo... E há também os outros, os de maior preguiça, aos quais ganho direito por causa dos primeiros...
Vamos transpor tudo isto para um nível emocional... Também tenho listas mentais do que tenho que fazer e do que não posso fazer... Aí é mais difícil riscar tudo o que já se conseguiu atingir, porque o equilíbrio que almejo é, tantas vezes, precário... Penso que já o agarrei, mas no momento seguinte a corda fica, de novo, bamba perante um inesperado golpe de Universo... Obrigo-me a visualizar a lista e a contemplar tudo o que já atingi, para não retroceder... E, olhando-a, creio em mim e sei que só serei eu se continuar a auto-superar-me, por mais que isso seja penoso e interminável. Portanto, desafio seguinte, aqui vou eu! Afinal, sou como a personagem do livro que continuo a ler (espreitem nos posts anteriores, porque o trabalho ainda não me deixou passar para o próximo!): e estou disposta "a comer amargura para encontrar ouro."
PS-Se for em forma de Euromilhões também não faz mal! :)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

My rainy ways...

E no contexto dos dilúvios deste Inverno, aqui fica uma canção que "herdei" da minha Mãe e cuja letra adoro:


Depois da tempestade...


A noite foi de temporal... Mas até os nossos temporais podem parecer ninharias quando comparados com os dos outros... O mesmo acontece dentro de nós. Por vezes perdemo-nos em redemoinhos de sensações que nos fazem quase afogar. Sabemos que o nosso coração já naufragou noutras situações, em passados que preferíamos não lembrar. E temos medo e medos... De voltarmos a ser sugados pela solidão e pelo desamparo. Afinal de contas, a nossa humanidade nunca deixa a nossa carcaça despejada. E isso dificulta o viver, mas possibilita-o também.

Porque acreditamos que a acalmia regressará. Que o que foi pranto se possa transformar em sereno orvalho feliz e que o que foi ventania redunde numa brisa suave para nos acariciar o sorriso... Porque "depois da tempestade, vem a bonança". Virá? Eu acredito que sim, mas essa sou apenas eu...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Surpresas...

Quem me conhece a fundo sabe o quanto eu gosto de surpresas... Basta uma gota boa de inesperado pingar no meu dia para que as suas águas se movimentem e formem ondas de sorrisos dentro de mim... Eu sou aquela que não gosta de fazer listas no aniversário nem no Natal, porque adora ser surpreendida...
Felizmente a profissão que escolhi presta-se a isso. Hoje estava no meu cantinho, perdida nas minhas preocupações, quanto senti um olhar a um palmo de distância. Levantei a cabeça e, no olhar de confirmação de que era mesmo eu, reconheci a D., uma aluna a quem dei apoio individualizado já há uns anos. Muitos problemas de saúde, doença degenerativa, vida difícil, mas um grande gosto pela escrita, aliado à sua perseverança, fizeram-na vingar, sair do concelho isolado onde vivia, frequentar o Ensino Secundário na cidade e não esquecer a professora de Língua Portuguesa que, ao longo de um ano lectivo, se sentou ao pé dela na sala de aula...
Obrigada, D., por me recordares que toco vidas todos os dias... E não queria que fosse doutra maneira...

Sábados...


Continuando nostálgica, desde pequena nunca gostei muito dos Sábados... Em casa era dia de limpezas, cá dentro era dia de transição entre a semana de escola e o domingo de descanso e eu nunca me dei bem com transições... O meu dia favorito sempre foi a segunda (sou mesmo estranha!), porque marcava o início de uma nova semana e eu ficava sempre com vontade que chegasse, curiosa do que a iria encher. Sempre gostei de voltar à escola (e tantos anos decorridos, embora com alguns desencantos face à profissão que escolhi, continuo a gostar...)

Agora, já adulta, tenho algumas razões para gostar muito dos Sábados... Às vezes a teimosia do Destino infiltra-se, tentando arranjar-me novas tensões para não gostar deles outra vez... Mas eu vou ser mais teimosa do que esse Ente Supremo e continuar a privilegiar os motivos que me fizeram dar o braço a torcer na afeição por este dia da semana... Até porque, mais do que em qualquer outra coisa, eu acredito no dia seguinte... Enquanto houver dia seguinte e eu estiver aqui, há sempre um Domingo e, sobretudo, uma Segunda-Feira para limpar o pó que o Sábado tenha deixado...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Velha Infância"

Em dias diluvianos como o de hoje, sinto falta das galochas cor-de-rosa que tive na infância, a combinar com um impermeável da mesma cor. Naquele tempo, nenhuma poça de água era demasiado grande para se chapinhar nela, nenhuma chuvada potente o suficiente para me encharcar o ânimo...
No fundo, do que eu tenho saudades é de passar pelas tempestades da Vida e não me molhar... Mas depois eu, adulta, me introspecto e descubro que viver nada de desafiante teria se eu não me molhasse para o sol do dia ou do instante seguinte me secar...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Formação...


Extenso areal, a Vida forma ondas perante o nosso olhar... A valentia morre, por vezes, dentro de nós, mas a atracção da espuma fala mais alto e atiramo-nos... É mais um dia, mais um momento, mais um respirar... E em cada um deles tornamo-nos, também nós, mar... E é ao fazer parte dele que sabemos de que gotas é feita a sua dor, em que salpicos se distribui a sua alegria. Tal como as ondas ficamos, pois, em constante formação...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Máscaras...


Hoje foi dia de máscaras... Nunca gostei deste dia. Acho que leva as pessoas a esconderem-se em demasia por detrás de uma pele que não lhes pertence, aproveitando-se da célebre frase "É Carnaval, ninguém leva a mal!".

Pois eu levo a mal... Levo a mal que se escondam as coisas boas para se revelarem as más... Levo a mal que, numa luta de azeite e água, vença sempre o azeite e seja ele a vir ao de cima, trazendo consigo tudo o que não é límpido nem puro...

Em dia de Carnaval e sempre, gostava que mais pessoas aprendessem o que o livro que ando a ler (Raparigas de Xangai de Lisa See) ensina na sua sublime sapiência oriental - a "comer a amargura". Costumo dizer aos meus alunos que, para evitarem conflitos, têm que "engolir" muita coisa. Digo o mesmo aqui. Tentemos mastigar bem as nossas revoltas e os nossos azedumes e engoli-los para o mais escuro canto de nós. Assim, o sorriso não será uma máscara, mas sim uma pele hidratada pela verdadeira alegria que pode existir em todas almas...

Ainda sobre as emoções...

Para complementar o meu post de ontem, acabo de vos deixar uma canção que me acompanhou na adolescência e que agora se apresenta recriada por uma voz que também está registada na jukebox das minhas memórias!
E sei que a Mariah também encaixotou à sua maneira um punhado de emoções para que as desembrulhássemos ao som da música. Não é o que nós, os seres humanos, fazemos todos afinal?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Emoções...


Gostava que pudéssemos encaixotar e embrulhar as emoções para oferecer àqueles a quem as pretendíamos transmitir... Assim não havia que enganar: os outros desembrulhavam, abriam a caixa e toda a gente sabia o que estávamos a sentir... Poderia haver melhor prenda? Respondo a mim própria: e que piada teria sentir se não nos tivéssemos que superar para arranjar formas de fazer chegar aos outros essa faculdade?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Perhaps...


Today I quote:

"Perhaps love is like a resting place
A shelter from the storm
It exists to give you comfort
It is there to keep you warm
And in those times of trouble
When you are most alone
The memory of love will bring you home

Perhaps love is like a window
Perhaps an open door
It invites you to come closer
It wants to show you more
And even if you lose yourself
And don't know what to do
The memory of love will see you through

Oh, Love to some is like a cloud
To some as strong as steel
For some a way of living
For some a way to feel
And some say love is holding on
And some say letting go
And some say love is everything
And some say they don't know

Perhaps love is like the ocean
Full of conflict, full of pain
Like a fire when it's cold outside
Thunder when it rains..."
John Denver


This is the most beautiful poem about love that I know because it shows the many faces of Love... Today I think of one of my late grandmothers, whose birthday was today and who spent the last eight years of her life lying on a bed without complaining and I know that is Love too... Perhaps Love is Life...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Retiro espiritual...


Ontem iniciei um retiro espiritual de doze dias que só os meus companheiros de armas (colegas de profissão) poderão entender... Embora o Alasca continue a brotar nos meus pensamentos como reduto para onde eu desejava retirar-me neste momento e sempre, não estou a falar em exílio geográfico, nem tampouco religioso (embora a minha religião seja a Vida, por isso a viva sempre!).

É tão somente um espaço temporal relativamente alargado em que quero aproveitar para me retirar para dentro de mim, para aquele nicho recôndito e silencioso do meu íntimo onde não há barulho, nem ruídos, nem urros, nem revolta, nem amargura, nem desrespeito algum. Quero aproveitar para pôr a leitura em dia, para estar com a família, com os amigos (ou seja, a outra família) e, sobretudo, comigo própria, nem que seja a relembrar as não-razões pelas quais detesto o Carnaval, mas gosto do sossego...

Para quê? Para que ao fim deste tempo, eu sinta saudades dos meus alunos e queira voltar ao seu alcance visual... E porque sei que essas saudades vão surgir... Dos que me sorriem, dos que me dizem que gostaram da aula, dos que valorizam os meus pequenos gestos diários de entrega à profissão... Se esses ainda existem, ouço muitas vozes dentro dos que me lêem a perguntar... Existem, sim... Eles andam aí... São é cada vez menos e têm tendência a esconder-se... Mas eu vou continuar a minha missão de os encontrar... Depois do retiro espiritual, se fazem favor...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Palavras-carícia...

Volto ao tema do post inicial deste blogue: as palavras... Volto a elas hoje, tal como o faço a cada dia que me é dado para viver. Mas hoje volto em forma de agradecimento, em jeito de tributo, porque há palavras que são como carícias. Vêm no sopro de um vento inesperado e roçam na nossa alma, como se a acariciassem... E estou aqui porque elas não sabem, mas muitas vezes são elas que me salvam de tudo o que de mau me ronda, de tudo o que de sombrio me ameaça (ou não fosse eu um ser humano...) e de mim própria até...

"Did you hear about the Morgans?"

Well, I did... And I met them yesterday! In between small giggling, lots of popcorn and fat laughter (especially caused by Hugh Grant's nonsensical lines), I found myself thinking that places help to turn us into who we really are. Life's intertwining paths are not so hazardous as we can imagine them. So this old emotional me, who is always able to find a tear and a philosophical conclusion in a romantic comedy, ended up thanking the Universe for having been directed to this small spot in the middle of the Atlantic. I guess I make much more sense here than I would in New York or dear Ottawa. Did you hear about me?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Flower Power!


Nunca me considerei muito uma pessoa de flores ou de plantas em geral... Devo ter visto muitos desenhos animados com plantas carnívoras em pequena... Acho que, por isso mesmo, fui perdendo muitas oportunidades de as receber (quero acreditar que foi por isso apenas... Quem me mandou apregoar aos sete ventos que até nem era muito pessoa de flores? LOL), mas agora que tenho duas bem bonitas e cor-de-rosa a viver ao meu lado na secretária, devo dizer que me pus a pensar na condição de ser flor...

No fundo somos todos flores e plantas. A nossa Vida é um vaso porque parece que fomos colhidos algures no Universo e colocados dentro dela. E ao longo do período de tempo que dura o nosso existir, vamos sendo regados pelos gestos dos que nos querem bem e iluminados pelos raios dos que são importantes para nós. Assim se faz a fotossíntese da Alma e se cresce mais em seiva do que em tamanho...