"Dizem que o tempo sara todas as feridas. Talvez seja verdade. Mas há feridas que parecem não sarar. Sangram, vertem pus, voltam a sangrar, surpreendem-nos a magoar a alma quando esta já deveria estar habituada e imune a tanta dor. É certo que, às vezes, essas feridas acalmam, como as marés que recolhem a água e recuam para o mar alto; mas, tal como as marés, regressam depois, revigoradas, pujantes, invadindo de novo a praia e fazendo sentir o fulgor da sua presença, o ímpeto do seu regresso."
José Rodrigues dos Santos
Há feridas de dimensão inimaginável… Só de as vermos nos outros elas doem-nos de forma quase insuportável. Queremos ajudar e vasculhamos o nosso íntimo, em busca do que poderíamos tirar da caixa de primeiros socorros que carregamos na alma, mas cedo nos apercebemos de que nada do que possamos fazer ou dizer aliviará tamanho sofrimento.
Lembramo-nos de quando fomos nós a sofrer e a tal brecha de dor reabre-se. Choramos pelos que estão magoados agora e pelas nossas próprias mágoas que o tempo apenas varreu para debaixo da tapeçaria da nossa existência. Sempre que procedemos a arrumações cá dentro, tentando guardar novas experiências, os tapetes movem-se e elas ressurgem… Paramos para as contemplar, como se as tivéssemos esquecido, como se já não soubéssemos os motivos que as provocaram...
À tona do nosso olhar recebemos, não só algumas lágrimas passadas, mas também olhares, sorrisos, memórias, instantâneos de felicidade que também já arquiváramos. Agradecemos? Claro, sempre… Porque tudo o que nos fez sofrer começou por nos fazer sorrir… É só isto que temos para passar como testemunho aos que agora sofrem. Sabemos que não basta, mas nada alguma vez será suficiente de novo...
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