Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

domingo, 6 de abril de 2014

A Palavra...


"Palavra mete medo, assusta. Toda palavra. A mais inofensiva, súbito, causa estrago. Uma combinação equivocada, um tom infeliz, uma vírgula precipitada ou omissa podem significar o desastre. Palavra machuca, deixa marca. Palavra mata. Palavra deveria ficar guardada bem no fundo, no alto dos armários. Longe do alcance das crianças. E dos adultos. Palavra é arma. É preciso ter porte para usá-la."
in Arroz de Palma, de Francisco Azevedo

Sim, a Palavra pode ser tudo isto. Se mal arremessada, ferirá de morte a nossa alma. Mas também é ponte que nos une ao outro; escada que, degrau após degrau, vamos subindo para mais perto dele chegar; tapeçaria que vamos entrelaçando com fios de várias cores e com que tornamos a vida mais aconchegante e quente...
Sem a Palavra seríamos órfãos de tanta partilha, de tanta aproximação, de tantas relações... Talvez habitássemos num buraco negro a meio de um cosmos desolado, frio e sem sentido. É por isso que dou graças pela sua existência falada e escrita. Com palavras sou Eu e me escrevo todos os dias, umas vezes soletrando-me a medo, outras discorrendo em discursos determinados. Compilo páginas neste existir que me foi dado e convido novas personagens para nelas figurarem.
Chegada ao meu Epílogo, gostaria de olhar para trás e pensar que nada terá ficado por dizer... Trata-se de uma ilusão, bem sei. Mas também tenho a certeza de que não quero arrumar as minhas palavras no fundo nem no alto do armário da minha alma. Porque, se o fizesse, estaria a mutilar uma parte de mim e a Vida foi feita para vivermos de corpo e alma inteiros...

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