Fotografia by Né - Ribeira dos Caldeirões, Achada - Nordeste São Miguel Açores

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Efemeridade...


Quando a madrugada nos acorda às 2:41 com o abanão de um sismo, soletramos essa palavra (efemeridade) com o medo que se apodera de nós. No período de segundos que dura o tremor, pensamos na vida, nos que nos são queridos e lamentamos que tudo possa acabar ali. Não temos tempo para focar o pensamento em situações concretas nem em caras, mas o que mais desejamos é que este pedaço de existir que nos foi concedido se estique como um elástico e não tenha chegado ao fim.
Passado o susto, voltamos à acalmia, mas sabemos que o abalo maior é sempre no nosso íntimo. Desperta-se em nós a consciência da nossa precariedade e os nossos sentidos ficam mais alerta. Quando amanhece, tudo parece mais belo e mais cheio de valor: o chilrear dos pássaros que nos acorda fica menos estridente e mais melódico; o descafeinado matinal, que teve de substituir o café nos últimos tempos por vicissitudes do corpo, parece cheirar melhor e ter mais sabor; não lamentamos a Becel que barra a torrada em vez da manteiga que preferíamos; enamoramo-nos de um dia que, embora simples e calmo, tem tantos segundos para encher de vida...
Sabemos que, até ao próximo susto, o quotidiano nos voltará a anestesiar e a rotina raptar-nos-á, entorpecendo-nos os sentidos e o sentir... Fica a mensagem de José Luís Peixoto para nos manter acordados:

"A vida é tão efémera. A saúde é tão efémera. Estamos aqui, em forma, mais ou menos contentes, a ler um livro, é tão transitório. A ler um livro, imagine-se. As forças da doença, se quiserem, subjugam-nos e aniquilam-nos em menos de um instante."

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