"Comportamo-nos como se as pessoas de quem gostamos fossem durar para sempre. Em vida não fazemos nunca o esforço consciente de olhar para elas como quem se prepara para lembrá-las. Quando elas desaparecem, não temos delas a memória que nos chegue. Para as lembrar, que é como quem diz, prolongá-las. A memória é o sopro com que os mortos vivem através de nós. Devemos cuidar dela como da vida.
Devemos tentar aprender de cor quem amamos. Tentar fixar. Armazená-las para o dia em que nos fizerem falta. São pobres as maneiras que temos para o fazer, é tão fraca a memória, que todo o esforço é pouco. Guardá-las é tão difícil. Eu tenho um pequeno truque. Quando estou com quem amo, quando tenho a sorte de estar à frente de quem adivinho a saudade de nunca mais a ver, faço de conta que ela morreu, mas voltou mais um único dia, para me dar uma última oportunidade de a rever, olhar de cima a baixo, fazer as perguntas que faltou fazer, reparar em tudo o que não vi; uma última oportunidade de a resguardar e de a reter. Funciona."
Miguel Esteves Cardoso
Acho que está praticamente tudo dito. Pelo menos a mim própria, que não suporto perder pessoas ou tê-las longe, embora me custe mais tê-las afastadas do pensamento do que da geografia em que pouso. Talvez não haja muitos seres humanos que eu gostasse de saber de cor, para os sentir mais perto quando estão longe ou quando se projetam para uma distância quase impossível de transpor. Mas esses poucos têm cores que eu admiro e que escolhi para fazerem parte da paleta com que pinto a minha Vida... E se as escolhi é porque sem elas o meu Universo ficaria apenas a preto e branco...
Sem comentários:
Enviar um comentário
E tu, estás inspirado/(a)?